sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Daniel Keith Ludwig por Cristovão Lins - Projeto Jari

Estes fatos aqui relatados são verídicos, foram citamos pelo autor do livro pelo qual me baseei, para contar a trajetória do Projeto Jari.

Na Amazônia, os grandes investimentos estrangeiros não foram bem sucedidos. Como por exemplo, apenas para ordenar o raciocínio, citaremos a construção da Estrada de Ferro Madeira/Mamoré, iniciada em 1871 pela firma inglesa Public Works Construction Company, e concluída já no século seguinte, em 1912, por outra companhia, a Brazil Railway Company, tendo à frente Percival Farquhar.

Outro exemplo foi o plantio de seringueiras para a fabricação de borracha, entre os anos de 1927 e 1945. Implantado nas localidades de Belterra e Fordlândia, na região do Rio Tapajós (município de Santarém), estas plantações foram idealizadas pelo grande empresário americano do automobilismo, Henry Ford. E por último a Jari de Ludwig, que talvez devido ao avanço dos meios de comunicação, tenha sido o mais combatido e repudiado.

A proposta do autor é apresentar os fatos sem partidarismo. Passa ao relato dos fatos da fase Ludwig baseados apenas no registro do que presenciou em dezessete anos de permanência na área, sempre atento aos acontecimentos ocorridos, ou através de informações por fontes fidedignas.

Tenta na medida do possível estabelecer uma cronologia dos acontecimentos, de forma geral, principalmente da vida de Ludwig, à qual teve acesso através de alguns de seus colaboramos mais chegados, e pelo contato direto com o próprio, em situações de trabalho. Porém pretende mostrar Ludwig tal como o vio, no escritório ou andando pelas ruas de Monte Dourado, na maioria das vezes a pé.

Como todos os grandes homens, Ludwig era muito simples, nada havendo de especial relacionado às suas freqüentes visitas à Jari. No avião que era utilizado para trazê-lo de Belém a Monte Dourado eram preenchidas todas as vagas, sendo que ele sempre utilizava a última poltrona. O avião nunca teve sua partida retardada por causa dele, que estava sempre pontualmente no horário previsto para a viagem. Quando vinha dos EUA para o Brasil, utilizava o vôo comercial de empresa aérea (no caso a VARIG), pois não possuía avião.  

Em Monte Dourado geralmente fazia suas refeições no restaurante Staff, juntamente com todos os funcionários. Tinha preferência por frutas, principalmente banana e mamão. Certa vez o administrador de Monte Dourado, desconhecendo os hábitos de Ludwig, mandou vir de Belém grande variedade de frutas. Ludwig ficou muito aborrecido quando viu as frutas e disse que de outra vez lhe trouxessem somente banana e mamão.  

A residência que utilizava era a casa de hóspedes, construída em madeira, onde existia um quarto que era utilizado por outras pessoas, quando ele não estava em Monte Dourado. Quando ainda era estudante de Agronomia, em passagem por Monte Dourado proveniente de Monte Alegre, fui alojado neste apartamento em companhia do Dr. Avertano Rocha, advogado da Jari naquela época.  Ao chegar à Jari, Ludwig já era homem septuagenário, porém muito ativo, de andar ligeiro e firme, apesar de evidente defeito na coluna vertebral, seqüela de grave acidente em um de seus estaleiros (devido e uma explosão, precisou saltar n’água para salvar dois de seus empregados, lesionando seriamente a coluna).

O autor guarda na retina uma imagem que parece sintetizar seu temperamento: Uma vez Ludwig foi a Saracura, que servia de base para a implantação do Projeto Arroz; para ter melhor visão do campo, não hesitou em subir na desafiadora escada da caixa d’água, que não tinha corrimão e era bastante íngreme.

Em Monte Dourado acordava cedo e ia nadar na piscina; ia sempre caminhando.  

Na casa de hóspedes havia um zelador de nome Freitas, que sofria de reumatismo infeccioso e devido a esta doença tinha muita dificuldade de locomoção. Freitas afeiçoou-se a Ludwig e este também o tinha em grande consideração. Certa vez a Administração de Monte Dourado demitiu-o, devido a seu problema físico. Na viagem seguinte, Ludwig descobriu a verdade. Por causa deste episódio  “gente grande quase foi comida pela onça” (expressão irônica que assinalava as demissões na Jari). O certo é que Freitas foi readmitido no posto de mordomo na casa de hóspedes.

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