sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Exposição do Plano pelo Autor do Livro

O arq, Oswaldo Bratke, sem dúvida, direcionou para a arquitetura a maior parte de sua atividade profissional, fazendo menos incursões pelo campo do urbanismo. Em seus estudos para implantação da Vila de Serra do Navio, percebe-se que o arquiteto está sempre presente: na metodologia de trabalho, na forma de analisar e decidir; com frequência, se sobrepõe ao urbanista.

Por esse motivo, para traduzir com fidelidade o "modus operandi" de Bratke, assim como o autor do livro, também não vou adotar este site como uma citação muito ortodoxa da história, em termos de metodos urbanísticos. Uma palestra proferida pelo arq. Oswaldo Bratke na Universidade de São Paulo e alguns trechos de relatórios apresentados por ele à ICOMI constituem uma exposição clara e completa de seu projeto, na Vila de Serra do Navio. Passo a palavra ao aquiteto:

"Na década de 50, a Indústria e Comércio de Minérios, ICOMI, se instalou no Território Federal do Amapá, a fim de explorar em plena selva amazônica uma jazida de manganês, na Serra do Navio, distante de Macapá e do rio Amazonas cerca de 200 km. Para minerá-la, necessitava de uma implantação urbana, para alojar seu pessoal. O manganês seria embarcado em porto à margem do rio amazonas, e aí também se fazia necessário outra comunidade, para pessoal de administração e de porto. Pequenos povoados intermediários provavelmente seriam cogitados, dada a distância entre a mina e o porto.

A Vila Serra do Navio, por se situar dentro do perímetro de concessão, reverteria sem ônus para a União, junto com as instalações de mineração e estrada de ferro. A ICOMI no entanto pretendia apresentar sugestões de seu aproveitamento e desenvolvimento, transformando-a em cidade aberta a terceiros, quando houvesse alternativas de trabalho na região. A Companhia   trabalha hoje ativamente na pesquisa dessas alternativas. (Este discurso foi proferido quando a Companhia ainda estava em atividades)

Quanto a Vila junto ao porto, teria como destino sua abertura à comunidade. As casas seriam repassadas a terceiros, chefes, funcionários e demais pessoal, que iriam trabalhar em outras atividades produtoras a serem pesquisadas. Era desejo da ICOMI que se deveria envidar todos os esforços para que esses conjuntos urbanos principais mantidos por ela,   atingissem as qualidades de uma cidade exemplar: uma spciedade de indivíduos, com o fim de proporcionar o bem-estar a todos, representado pela segurança pessoal, saúde, lazer, cultura, liberdade, facilidade de aquisição de alimentos e dos bens desejados etc.

Não deveria ser, em hipótese alguma, um aglomerado humano transitório, a ser relegado ao abandono, uma vez exaurida aquela Mina. Os pontos de vista da ICOMI eram os mesmo que os meus. Foi-me confiado o planejemanto, com bastante liberdade de ação. Não era, porém, simplesmente um contrato de projeto de vilas e casas, e sim, implicitamente, a responsabilidade pleo funcionamento daquilo que se propunha. Começamos por atentar para os planos, que deveriam ser, simples para se porem em prática, e bem estudadas formas de agrupamento, com o fim de resultar em economia de infra-estrutura e construção do equipamento. Não fazer o qu pudesse gravar a manutenção com gastos excessivos, sob pena de deterioração.


Uma comunidade como a desejada deve ser, em seus primeiros tempos, fechada a terceiros, seja para moradia, comércio ou prestação de serviços, até que se concretizem os hábitos de viver da sociedade. Nada se devealienar, por venda, concessão ou a que título seja. Conhecíamos o homem que ia habitá-la e seus hábitos.


Sempre acreditei que uma implantação urbana deve ser feita à feição de seu morador e não uma imposição à qual ele tenha de se adaptar. Isso para que ele se sinta bem e coopere em seu aprimoramento. Mas, vilas de propriedade de organização privada, e que propocionam todo o conforto e segurança, não incentivam o espírito de luta, necessário à conquista de bens desejados e sua futura independência. Antes, desencorajam esses indivídios de possuírem suas próprias casas, tornando-se mais e mais dependentes, Matendo-as restritas ao uso da população de empregados da empresa, habituados à disciplina hierárquica, esses logo se adaptam às obrigações e aos regualmentos, simplificando a administração e a manutenção. Bem dirigidas, tornam-se uma escola de vida gregária, de responsabilidade e respeito mútuo. A presença de uma Companhia dirigindo e administrando essas comunidades deve ser discreta, para não ser antipática.


A instituição de um Conselho Municipal, formado por moradores funcionários resolvendo problemas comunitários em conjunto com seus administradores, livra a Companhia de muitos aborrecimentos. Os ônus da manutenção e direção, porém, sempre caberão à Companhia proprietária do conjunto. Deve paulatinamente ir admitindo comércio e serviços de terceiros, estranhso aos serviços da Companhia, não tolhendo esse direito também a dependentes de seus empregados; enfim, deve permitir a todos aqueles que, obidientes a regulamentos o obrigações, queiram cooperar para o bem-estar comum.


Com alternativas de trabalho que vão surgindo, a Companhia deve repassar, gradativamente, aos empregados ou a terceiros. habitações, comércio, serviços, na foerma mais adequada, incentivando a procura de novos meios de renda e, consequentemente, o aparecimento de novos empregos, Espera-se que, com raízes implantadas, a comunidade paulatinamente se atualize, beneficiando-se das vantagens que o progresso prpociona. Alcançado este estágio, desenvolve-se a vida coletiva e se forma  o caráter da cidade. O crescimento migratório de indivíduos de formação e idéias variadas pouco muda sua característica, dada a natural adaptação ao meio ambiente, se esse crescimento for pausado e ordenado. O crescimento vegetativo age como elemento moderador das possíveis distorções, de vez que seus componentes são herdeiros dos proósitos de sua formação.


Contratados os nosso serviços, visitamos casos congêneres aqui e no exterior, para sentir mais o problema, as vantagens ou inconvenientes de certos partidos, as queixas mais comuns, enfim, toda a orientação que fosse útil na implantação da administração. A seguir, procuramos conhecer as condições físicas da região, o homem que habitava, seus costumes, sua casa, os meios de comunicação, de transporte, de tudo, enfim, que  fosse útil à consecução dos planos. Era necessário saber dos materiais disponíveis na região e até como se opera uma mina. As características locais, que passamos resumidamente a descrever, se comportam aos anos 50.


As jazidas situadas em região de relevo acentuado eram cobertas de florestas tropicais, de dificíl penetração e somente parcialmente nas margens dos rios, que constituíam o único meio de comunicação existente, bastante precário, de vez que apresentavam inúmeros acidentes em seus cursos. As jazidas, então, estavam isoladas e muito distantes de quaisquer outros centros de apoio. Matas de grande variedade de espécies; mas, devido ao baixo teor de fosfato e carbonatos em seu solo, tornavam dificíl a exploração de suas madeiras para construção. Terreno em geral laterítico, ácido, de pouca pedra e de areia muito fina. Chuvas abundantes com média anual total de 2.000 mm e máxima de 100 mm por hora, Nos meses de estio (setembro outubro e novembro) o mínimo é de 60 mm por mês. Temperatura média de 28º C, com máxima de 32º C. Umidade relativa na casa dos 90%. Ventos alíseos fracos. Enchentes tornavam arriscada o uso das margens dos rios para implantação urbana. As condições climáticas eram propícias à formação de mofo, de fungos e para redução da vida útil de muitos materiais. Enfim, um trabalho muito grande para o arquiteto contornar esses incovenientes.

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