sexta-feira, 9 de novembro de 2012

O Homem

O homem das regiões e vizinhanças exercia suas atividades em função dos cursos d'água sua única estrada. Vivia da exploração dos produtos nativos das florestas, ou da pesca, em regime nômade e da maneira mais primitiva possível. Era explorado pelo  proprietário do armazém, nas esquinas dos rios, que comprava seus produtos por preços vis, escravizando-o com o pagamento de viveres. O ubá, pequeno barco, era a sua montaria. Seus trens, carregava-os num saco de viagem, que continha pouco mais que o mosquiteiro, rede e alguma peça de roupa. A criação do Território provocou a imigração, de ilhas e estados vizinhos, de populações com características similares.

As condições de transporte não eram satisfatórias.  O marítimo não era seguro, além de incerto nos prazos. Sabíamos de mercadorias que levaram dois anos para fazer o trajeto das fábricas no Sul até o local das obras.

O transporte aéreo, antieconômico, era limitado à fração mínima de materiais. Dentro do isolamento e das distâncias, tudo deveria ser previsto, a fim de propiciar os requisitos necessários à atração e retenção dos empregados das mais diversas categorias, vindos das mais diversas regiões.

Tínhamos a consciência de que a pesquisa se tornava da maior importância, para o atendimento das  necessidades locais de bem-estar. Cronogramas, levando em conta o tipo de transporte e as prioridade, a seram da maior importância. Falhas ou insuficiência de informações, a especificação leviana ou errada, poderiam determinar o mau êxito na obra a ser iniciada.

Projetar para lugares próximos às zonas produtoras de material de construção é familiar aos arquitetos que, conhecedores de seus segredos, sabem até que ponto podem remanejar o projeto, mesmo depois de iniciadas as obras, adaptando-o aos caprichos da produção, sem causar prejuízos ao mesmo, alterando ou substituindo partes. É bem diverso o projeto para zonas distantes, sem recurso, sem tradição de construção, desconhecidos os materiais e suas qualidades, até mesmo por seus próprios habitantes. Nesses casos, o projeto deve    ser completo, preciso, com a margem necessária  a adaptações locais, econômicas ou estruturais, permitindo versatilidade de técnicas e prioridades de serviços, facilitando ao construtor os meios para cumprimento dos prazos.

Quanto às casas e zonas de uso, após pesquisas e consultas, examinados os prós e contras de cada sugestão, concluiu-se pela divisão das vilas em dois setores, devendo anida haver dentro de cada um unidades residenciais com áreas diferentes, para atender os mais variados casos. Esta medida poderia parecer discriminatória, não houvesse razões que a levaram a se adotada como a melhor das soluções, principalmente considerado o longo prazo, como passo a explicar.

O operário da região, em geral, tinha condições de moradia bastante precárias, com casas desprovidas de boas instalações, sanitárias de esgotos, de entrelamento, ou mal protegidas das intempéries. Emfim, muito além daquilo que a ICOMI poderia oferecer, mesmo sendo do tipo econômico, isto é, casas salubres, atendendo a todos os requisitos necessários ao bem-estar do morador. Tínhamos absoluta certeza de satisfazê-lo, com o que pretendíamos oferecer. Já o pessoal categorizado, em geral de outras regiões dotadas de mais conforto, com bom ensino profissional ou superior, com maior responsabilidade de direção de serviços, contratados para determinado tempo de trabalho, dificilmente se radicaria no Território, pois sua promoção seria a de trabalhar em centros maiores, onde a Companhia também tivesse interesses, ou então voltar a seus Estados. Um dos atrativos que se poderia oferecer a essse pessoal, que provavelmente não investeria dinheiro na região, seria o de oferecer uma casa dotada de conforto e até certo luxo, o que  por seus meios, em sua terra, dificilmente poderia conseguir.

Esses dois setores ou grupos de casas seriam separados pelos equipamentos comunitários de comércio, serviços, escolas, clube etc. Um grupo, composto de casa de hospedagem, refeitórios e casas de chefia, precisaria ser mantido pela Companhia por longos anos. O outro, onde se concentrariam o grosso dos empregados e o centro cívico e comercial, poderia ser repassado antes e poderia se constituir no embrião de uma  comunidade independente.

Sendo a região coberta de espessa mata, faz-se necessário o seu desbaste para as áreas a serem  construídas. Esse não deve, porém, ser limitado a essa área. Antes, devemos encará-lo sobre outros fatores, quais sejam o da necessidade de ventilação e o de abrir perspectivas sobre pontos de interesse, valoriazando a paisagem local.

Para evitar futuros desastres com quedas de árvores, às quais na mata se apoiam umas às outras, a derrubada deve ser total nessas áreas,  cuidando-se logo do plantio de espécies de menor porte, de floração colorida, decorativas e mesmo frutíferas, nos espaços livres destinados a parques ou pátios de recreio, sombrando e protegendo o terreno, ao mesmo tempo que proporcionando aspecto  estético e agradável ao conjunto. Fazendo-se as vias de distribuição envolventes, limitaríamos super-quadras, sendo estas as nascentes de outras envolutórias, Vielas  convergentes, partindo delas e dando passagem somente à veículos para a coleta de lixo, ambulâncias, mudanças e serviço de incêndio, dando maior segurança ao pedestre, serviriam de ligação ao centro do conjunto, onde estariam os edifícios de interesse comum.

Tendo a orientação como uma constante e fazendo projeções e recuos no alinhamento  das unidades, poderíamos formar espaços ítimos e agradáveis, como praças de encontro e de brinquedos para as crianças dos conjuntos dessas unidades, evitando a concentração delas nos espaços públicos, junto aos clubes, centro de compras etc.

Dentro da vastidão e grandiosidade da região, ao mesmo tempo que sua pequena densidade demográfica, o sentido espacial toma características especiais, de importância predominante, tanto no sentido econômico da construção quanto na conservação dos serviços dos espaços públicos. Assim, o adensamento exagerado é medida econômica não justificável, diante da imensidão regional. A separação também exagerada traz, como consequência, a conservação onerosa e talvez impraticável. A conformação do terreno, o clima e a estética também devem ser fatores determinantes da proporção entre espaço construído e espaço livre.
Deve-se levar em consideração o advento do automóvel, mesmo para assalariados de menor padrão, assim dimensionando vias, vielas etc., em função do mesmo. O alinhamento das habitações, dada a situação geográfica das cidades, deve ser leste-oeste, para as construções em geral. No caso de conflito entre esta existência e condições de solo, a primeira deve prevalecer.

Para manisfestações cívicas ou religiosas, deve ser estudada uma praça ligando os diversos edifícios de uso ou de interesse público, podendo a mesma conter a população da vila e mais os visitantes. Os prédios devem ser dispostos de maneira a manter tempo possível e vida na praça. Assim, pela manhã teríamos o movimento de compras, à tarde do clube e compras, à noite o clube. Aos domingos, pela manhã, serviços religiosos. A escola deve estar próxima a esse conjunto.

O local de feira livre, para abastecimento de verduras, aves, ovos, fornecidos por pequenas chácaras das vizinhanças (cuja formação deve ser incentivada), deverá ser próximo ao centro de abastecimento, o mesmo acontecendo com a fábrica de gelo. Os serviços administrativos, polícia, cartório, agência bancária e de correio  etc., devem fazer parte do centro Cívico-Comercial-Social.

Nenhum edifício de uso coletivo deve distar mais de 500 metros das diversas casas. O hospital, porém, deve estar em local isolado, com grande área de proteção à sua volta, e ainda em local bem ventilado. A localização dos alojamentos de solteiros em relação às residências de famílias assume importâncias de caráter moral, em localidades de rotina monótona.

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